20 de agosto de 2016

Brasil bate Alemanha nos pênaltis e conquista o ouro inédito

Jogadores brasileiros no mais alto do pódio
O Brasil conseguiu finalmente acabar com a espera por uma medalha de ouro no futebol dos Jogos Olímpicos ao derrotar a Alemanha nos pênaltis por 5 x 4, neste sábado (20), após empate de 1 x 1 no Maracanã, em um reencontro nervoso com seu algoz na Copa do Mundo de 2014.  

Depois de um jogo equilibrado na decisão dos Jogos Rio 2016, a seleção conquistou o primeiro título olímpico graças a uma defesa do goleiro Weverton em cobrança de Nils Petersen, a última da Alemanha, e coube a Neymar bater a penalidade decisiva, fazendo o Maracanã explodir.
Jogadores do Brasil comemoram o gol na última cobrança de pênalti
"É muito especial, agradeço muito a Deus, da forma que foi, nos pênaltis, da forma que foi, com muita luta, depois de um começo difícil", disse o técnico Rogério Micale. "Tivemos jogadores extremamente dedicados, profissionais, com ótima qualidade técnica. Saio daqui com a sensação de dever cumprido."

A partida que decidiu o torneio olímpico de futebol marcou um reencontro do Brasil com a Alemanha após a humilhante derrota por 7 x 1 no Mineirão, pela semifinal da Copa de 2014.
Mesmo não sendo os times principais das duas seleções, e os jogadores brasileiros evitando um clima de revanche, a torcida queria o troco, que veio nas penalidades, com a conquista do ouro olímpico inédito.     
Neymar cobra o pênalti que deu a vitória ao Brasil

O Brasil foi medalha de prata por três vezes, em Los Angeles 1984, Seul 1988 e Londres 2012, além de ter conquistado o bronze em duas ocasiões: Atlanta 1996 e Pequim 2008.
O jogo deste sábado teve o Brasil comandando pela maior parte do tempo as ações, mas sempre com a Alemanha perigosa em contra-ataques. Os brasileiros saíram na frente com um gol de falta de Neymar no primeiro tempo, mas os alemães empataram com Meyer depois do intervalo. 

A campanha brasileira rumo ao título olímpico foi marcada por uma recuperação no torneio, que começou com dois empates frustrantes por 0 x 0 contra África do Sul e Iraque, provocando vaias da torcida em Brasília.

A goleada por 4 x 0 sobre a Dinamarca na terceira rodada não só garantiu a classificação em primeiro lugar no grupo, como ratificou um novo time titular, com as entradas de Luan e Walace nos lugares de Felipe Anderson e Thiago Maia, respectivamente.

A partir deste momento, também, o Brasil começou a contar com o apoio da torcida, que aplaudiu o time em Salvador e também nas quartas de final, em São Paulo, onde ganhou por 2 x 0 sobre Colômbia.

Na semifinal, contra Honduras, a goleada de 6 x 0 fez balançar o Maracanã, que na decisão gritou que "o campeão voltou".     

BOLAS NA TRAVE

O jogo contra a Alemanha foi difícil e começou com uma bola na travessão de Julian Brandt aos 11 minutos, a primeira de três bolas na trave brasileira no primeiro tempo.
Aos 14 ocorreu a primeira boa chance do Brasil. Douglas Santos cruzou da esquerda, Luan chutou pelo meio, mas a bola bateu na defesa. O Brasil comandava as ações do jogo e aos 23, após escanteio cobrado por Neymar, Renato Augusto chutou de primeira e a bola passou perto.

O gol saiu aos 26, quando Neymar acertou uma cobrança de falta sofrida por ele pelo lado esquerdo do campo. A bola ainda bateu na trave antes de entrar. Na comemoração, o atacante do Barcelona imitou um raio, assim como Usain Bolt, que estava no estádio.

A Alemanha respondeu rapidamente, teve uma bola na trave e na sequência Meyer chutou para boa defesa de Weverton. Aos 35 Bender acertou outra bola na trave do goleiro brasileiro.
Jogadores do Brasil disparam para comemorar após última cobrança do pênalti: vitória

No segundo tempo, a Alemanha ocupou mais o campo de ataque e conseguiu o empate aos 14 minutos, quando Meyer recebeu passe dentro da área e, sozinho, chutou de primeira para empatar.

O Brasil resolveu então atacar, principalmente com Renato Augusto, que deu um chute perigoso e depois arrancou pela direita e deu ótimo passe para Gabriel Jesus, que chutou para fora.  

Sem aparecer muito no jogo, Gabriel foi substituído por Felipe Anderson, que teve boa chance ao receber lançamento de Neymar, mas demorou para finalizar e foi desarmado.

Neymar tentou resolver sozinho no lance seguinte, aos 33 minutos, e sua tentativa passou perto. Com a Alemanha bem postada na defesa e buscando os contra-ataques, o Brasil não conseguiu furar esse bloqueio e a partida foi para a prorrogação, em que Rafinha entrou na vaga de Gabriel Jesus. 

A melhor chance brasileira veio no começo do segundo tempo, em que Neymar deixou Felipe Anderson na frente do goleiro Timo Horn, que defendeu o chute do brasileiro.

Nos minutos finais, tendo Neymar mancando, a Alemanha tocou bola sob intensas vaias da torcida, levando a decisão para os pênaltis.
Neymar repetiu o gesto de imitar um raio do jamaicano tricampeão olímpico de atletismo, Usain Bolt, presente no estádio. Bolt vibrou com o gol de Neymar

NEYMAR PERSONIFICA VOLTA POR CIMA DE TIME OLÍMPICO

Pedro Fonseca

O gol de pênalti contra a Alemanha que garantiu ao Brasil a primeira medalha de ouro no futebol em Olimpíadas levou Neymar a um novo patamar na seleção brasileira e pode servir para firmar um novo jeito de jogar e de agir do capitão, dando esperança à torcida de uma recuperação da combalida equipe principal.
Neymar abraça o filho Davi Luca após a conquista da medalha de ouro

Assim como o Brasil, que esteve a um jogo da eliminação ainda na primeira fase da Olimpíada, Neymar deu a volta por cima nos Jogos Rio 2016, passando de duramente criticado por seu desaparecimento nos momentos decisivos à craque da disputa pela medalha de ouro.

Além da cobrança final na disputa de pênaltis, foi dele o gol que abriu o placar no empate por 1 x 1 no Maracanã, numa magistral cobrança de falta que ele mesmo sofreu.

Antes mesmo da final, o gol marcado contra Honduras aos 14 segundos da semifinal, o mais rápido da história das Olimpíadas, já havia mostrado ao torcedor brasileiro um novo Neymar: saiu aquele jogador acusado de se jogar no chão e entrou o atacante aguerrido que roubou a bola do zagueiro e dividiu com o goleiro antes de empurrar para a rede.

Esse espírito diferente de Neymar faltou ao time principal do Brasil na derrota para a própria Alemanha na semifinal de 2014, quando o atacante não estava em campo por lesão, e nos recentes fracassos na Copa América em 2015 e 2016.

Presente ao Maracanã para a decisão do ouro olímpico, o novo técnico da seleção brasileira principal, Tite, certamente tem o que comemorar pelo fato de o atacante ter assumido a responsabilidade de cobrar o último pênalti, e converter a cobrança.

Não por coincidência, a volta por cima de Neymar também levou a seleção olímpica a se recuperar.

Depois de empatar os dois primeiros jogos por 0 x 0 contra África do Sul e Iraque, o Brasil entrou em campo para o tudo ou nada contra a Dinamarca, com a maior parte da pressão sobre as costas de Neymar, muito criticado pelo fraco desempenho nas primeiras partidas.

O jogador, então, comandou as ações do Brasil em campo, principalmente com bons passes, e o Brasil aplicou uma goleada de 4 x 0 garantindo sua vaga na fase de mata-mata.

A transformação de Neymar na Olimpíada se consolidou contra a Colômbia, adversário tradicional e duro da seleção brasileira. Numa partida em que os colombianos cometeram diversas faltas nele, aparentemente tentando desequilibrá-lo emocionalmente, o capitão brasileiro soube manter o controle e marcou o primeiro gol da vitória por 2 x 0.

Contra Honduras foram dois gols, o primeiro e o último, e a classificação garantida para uma nova final olímpica depois da derrota para o México na decisão da medalha de ouro dos Jogos de Londres 2012.

A mudança de postura e de rendimento dentro do campo foram acompanhadas, no entanto, por um silêncio ao logo de toda a competição. O capitão vinha se recusando a conceder entrevistas apesar de ocupar o posto de comando da equipe.

Em uma resposta às críticas, após o ouro, o jogador disparou: "Agora vão ter que me engolir".
Após o ouro, Neymar foi comemorar com amigos que estavam na torcida
Fotos: Pedro Fonseca e Tatiana Ramil/Reuters
Fonte: JC NET